Como ser uma princesa?

Estava à procura de um romance, mas não qualquer romance, isso seria insuficiente para mim, eu queria um exatamente igual àqueles dos contos de fadas. O romance que conheci na minha infância, onde tudo era possível e não havia limites entre o real e o imaginário.
Lembro-me da voz suave, muitas vezes cansativa e sem paciência da minha mãe ao me narrar algumas estórias, eu pensava em tudo aquilo e idealizava que minha vida fosse exatamente perfeita. Porém, fui crescendo, e então percebi que a vida não é nada fácil, que o mundo é cruel e triste. Hoje deslizo com suavidade meu olhar pelo mundo masculino tentando encontrar meu príncipe, que poderia ou não ser encantado, mas eu só queria o meu príncipe.
Ah os contos de fadas! Como me faziam bem, não que ainda não me façam hoje, pois os releio com a mesma velocidade que lia há alguns anos atrás, o problema é que agora percebo a carga moral contida neles, e percebo também a maneira como são indicados na escola, isso tudo me entristece.
Quero ser uma princesa, e então, pesquisei pela internet, fiz perguntas às minhas amigas, e concluí que será difícil eu me tornar uma princesa dependendo do ponto de vista. Eu penso que poderia ser uma cinderela com seu lindo vestido azul brilhante e seu sapatinho de cristal, mas isso seria por muito pouco tempo, visto que só poderia estar com meu príncipe até a meia noite. Muitas meninas hoje gostariam de ser Cinderela, e vivem a Síndrome da Cinderela, sofrendo e chorando pelos cantos, pensando que irão encontrar seu homem pérfeito. Sei que esta busca incessante só me trará rugas e estresse, foi por este motivo que desisti de procurar. Desisti porque estou desiludida. O mundo hoje tem uma diferença gritante daquele de quando eu era menina. Paro por um instante e penso na minha filha, fico angustiada, como será o mundo para ela daqui a 20 anos?
Ser uma verdadeira princesa não é nada fácil. É preciso ter classe, ter postura, ter beleza, ter simpatia e graciosidade. Além deste pequenos detalhes, é preciso ser uma mulher que saiba cozinhar, que trabalhe, que cuide dos filhos e que dê atenção ao seu homem. Difícil isso, uma tarefa quase impossível, pelo menos eu não tenho conseguido ser assim. Assim como minha infância, minha adolescência passou, e o conto de fadas perdeu seu valor real, ou melhor, imaginário.
Creio que talvez, em algum dia destes longos anos eu tenha comido uma maçã enfeitiçada por alguma bruxinha. Não entrei em sono profundo para ser acordada por um lindo príncipe, mas abri os olhos para ver o que me circundava, tudo o que sentia era um vazio profundo, e neste vazio não havia espaço para a felicidade, sempre faltava alguma coisa para me tornar realizada, nunca chegaria a me tornar uma princesa!
Durante minha adolescência tentei imitar meu amiguino Pinóquio, inventando algumas mentirinhas, nada muito grave, mas que eram necessárias para a minha realização naquele momento. Tinha por hábito, inventar algumas histórias para minha mãe pois eu sempre queria presentear minhas "paixões" com fotos minhas, até que um dia minha mãe descobriu e foi à escola buscar a foto que eu havia entregue a um garoto , foi extremamente vergonhoso e traumático para mim. A partir de então, nada de mentiras, nem as mais banais. Deixei-as com nosso querido bonequinho de madeira, até porque quero o meu nariz bem pequeno e bonito. Tenho estudado muito também, isso me conforta, sei que não terei orelhas e rabinho, então não serei burra, e não terei apenas um rostinho bonito.
Retomando o meu relato sobre como ser uma princesa, em como conseguir encontrar meu príncipe, eu encontrei, e o encontrei sem querer encontrá-lo, sem o procurar. Provavelmente o papai do céu deve ter pensado: "- Chega de fazê-la sofrer, agora ela precisa de alguém que lhe seja especial." E então, num dia lindo de verão eu o conheço, como nos contos de fadas, em lugar e situação jamais esperados por mim. Estava na praia, pensando em tudo o que já havia acontecido em minha vida, e eis que surge na minha frente, com aquele sorriso lindo e com aquele olhar que realmente me lembrava um daqueles lindos príncipes, o meu príncipe.
Depois de tanta troca de olhares, conversamos. E então meu coração logo se apaixonou. Eu não encontrava palavras para permanecer no diálogo, mas minha vontade era tê-lo exatamente assim em minha memória, como naquele momento mágico. Tudo nele me fazia acreditar que havíamos nascido um para o outro. Tudo é tão recente e tão inocente, que parece haver um querer bem maior, que transcende, e então sinto que será eterno. Transformei-me em outra pessoa, mais madura, mais segura, mais otimista e mais bonita, muito mais bonita. O amor é assim! Só acontece quando estamos bem interiormente, quando sabemos que a nossa felicidade não está no outro e sim dentro de cada um de nós. Posso dizer que estou feliz, que encontrei meu príncipe, e que ele me trata como uma bela e formosa princesa.
Estou sempre muito bem vestida, muito bem maquiada, com os cabelos, pés e mãos impecáveis. Se eu não tinha classe, posso dizer que agora tenho. Se andava triste e cabisbaixa, agora caminho sorrindo, com a cabeça levantada, cumprimentando a todos. Sou a simpatia em pessoa! Tudo isso porque agora me tornei uma verdadeira princesa, sem aquele luxo exagerado da corte, sem aquela imensa mesa com diversificados e sofisticados pratos, sem as mais glamourosas festas, e sem os vestidos mias lindos e brilhantes que sempre observei nas antigas estórias.
Tornei-me uma linda Cinderela. Sou uma princesa, e aprendi a sê-la gostando mais de mim, vivenciando neste mundo cruel e monstruoso, aprendendo a cada dia, e o melhor de tudo, foi que quando menos procurei e menos tentei ser o que não era, foi que acabei tornando-me a mais nova princesa, que não faz parte dos contos de fadas, mas que vive intensamente o seu conto de fadas.